30 de abril - Louvre




Por conta do cansaço do dia anterior, novamente tivemos problemas para acordar na hora. Levantamos mais tarde do que o planejado, tomamos café no hotel mesmo, pois atrasados ou não o Louvre só abre às 9h, dando tempo de comer com calma mesmo se tivéssemos no horário. E como estávamos com o museum pass, não nos sentíamos mais preocupados com filas, ainda mais depois da experiência em Versailles.
Alimentados e protegidos do frio, pegamos o metrô, até a estação que tem uma saída no Carroussel do Louvre, isto é, uma galeria bem embaixo do museu, com diversas lojas e um dos acesso ao museu, e com o famoso hall da pirâmide invertida. Na verdade, galeria não é uma palavra tão adequada, porque estamos falando de alguns andares de lojas e estacionamento, além do metrô. Tudo no subsolo.
De qualquer forma, chegamos no famoso hall, que ainda não estava estupidamente cheio, tiramos fotos na pirâmide invertida, e fomos correndo para o balcão de informações turísticas, pois queríamos confirmar onde ficava o ônibus para o parque Astérix, que visitaríamos no dia seguinte, e como comprar as passagens. Lembra que eu falei que na França tudo começa tarde? Pois é, o balcão ainda estava fechado.
Resolvemos deixar as informações dos tíquetes do parque para depois da visita ao museu e fomos tentar achar a localização do ônibus. Como não conseguimos achar o estacionamento subterrâneo (que ainda não sabíamos que existia), fomos tentar a sorte acima do nível do solo. Procuramos em vão, não tinha uma placa, um ponto de ônibus, nada que pudesse nos ajudar. Resolvemos que era melhor deixar tudo pra depois mesmo e fomos para a entrada mais próxima do museu.
Tinha fila. E ela era enorme e lotada de japoneses (ou chineses, não sei dizer).
Como não havia outra fila, ficamos preocupados, onde está o nosso privilégio do passe? Tinham me garantido que ele existia no Louvre! Decidi deixar o Caike no final da fila e fui pro início perguntar para o segurança como tudo funcionava. O funcionário, ao ver meu passe, disse pra passar na frente, mas não dava pra deixar o Caike sozinho e ficar esperando do lado de dentro, né? Voltei correndo e juntos nós mostramos o museum pass e exercemos nosso direito divino de furar fila.
Passando dessa entrada, que só consiste no sempre presente raio-x e no detector de metais, se entra num hall enorme, com inúmeros guichês de venda de ingressos e os acessos para os diversos pavilhões do museu. O Louvre é um museu muito interessante, você pode comprar diversos tipo de entrada, para cada pavilhão ou exposição ou grupos de pavilhões, fora as exposições temporárias, cujos ingressos são sempre vendidos à parte, não estando incluídos nem mesmo no museum pass.
Depois de conseguir um mapa com a descrição do que tinha em cada pavilhão, traçamos um plano de como percorreríamos o museu, numa espécie de maratona artístico-histórica de tirar o fôlego. Começamos então pelo pavilhão Suly, onde vimos primeiro o Louvre Medieval, que consiste de escavações no subsolo do museu que mostram as fundações do primeiro castelo construído ali e que deu origem ao prédio que hoje abriga o museu.

Considerações rápidas sobre o Louvre Medieval: para um primeiro castelo considerado primitivo, a construção antiga é gigantesca! E quem foi o louco que resolveu escavar nas fundações de uma construção tão antiga? Como é que as coisas não caem? Que loucura!

Essa parte da exposição não é exatamente imperdível, mas sobrando tempo vale a pena ver as bases do castelo medieval, porque é muito legal! Dali, resolvemos ignorar a exposição sobre a história do Louvre e fomos direto para o Egito, Mesopotâmia e em seguida esculturas gregas e italianas. Pra quem gosta de história antiga é imperdível. Você fica se perguntando o que sobrou no Egito para ser visto, porque a exposição é enorme! Tem tanta múmia que deixaria muito cemitério por aí com inveja! Fora as estátuas, estatuetas, vasos, jóias e inúmeros outros artefatos.
Pra mim foi uma sensação muito ambígua ver aquilo tudo ali, coisas de tantos lugares que na maioria das vezes se tem provas de que foram roubadas, sabe? É muito legal ver tudo junto numa exposição monstruosa como aquela, e todos sabem que durante muito tempo esses artefatos não foram valorizados nos seus países de origem e muitas vezes coisas preciosas foram destruídas. Mas eu já estive na Grécia e é doloroso entrar num museu num lugar como esse e ver apenas cópias com a inscrição "o original se encontra em escolha uma cidade européia", e não só nos museus! É de partir do o coração ver o Partenon sem uma, nem uma, estátua restante. Mas essa discussão não cabe aqui... são apenas pensamentos que me perseguiam enquanto eu visitava essa parte do Louvre.

Onde estávamos? Sim, depois do Egito e da Mesopotâmia, fomos ver um dos carros-chefe do museu, que fica numa sala só pra ela, no meio da exposição de esculturas gregas e italianas: a Vênus de Milo! Nunca imaginei que uma estátua fosse capaz de me emocionar tanto. É inexplicável! É uma estátua simples, nem é tão grande assim, e ainda está faltando pedaço! Mas ela exerce um poder nas pessoas fantástico! Você fica bobo olhando pra ela... tem que lembrar de fechar a boca e ver se escorreu alguma coisa.
Na verdade, toda a parte de estátuas gregas é de encher os olhos! Nossa, os gregos podiam gostar bem de uma sacanagem homossexual, mas como sabiam representar mulheres e o feminino... mas a cultura é mesmo algo que choca, uma das esculturas mais lindas e femininas que vimos, e que fez o Caike fazer o comentário que eu acabei de escrever aqui, era justamente de um hermafrodita. Uma mulher perfeita. Linda de morrer! Mas tinha "algo a mais". Simplesmente bizarro. Presente de grego mesmo.
Como estávamos no ritmo maratona, o negócio é ver o maior número possível de coisas, saímos do pavilhão Suly e fomos para o Denon! Ainda não era hora do almoço e estávamos no maior gás! Fomos encarar as pinturas francesas, italianas e espanholas!
Essa parte do museu não obedece uma ordem cronológica clara, nem tem exatamente temas ou escolas separadas, o que nesse caso é uma virtude, pois você pode comparar tudo! A sala das grandes pinturas é maravilhosa! Nela você tem reunidas as obras de grandes dimensões francesas, uma coisa de outro planeta! É difícil de imaginar um pintor realizando obras tão grandes... fora que são todas maravilhosas! Uma apreciação sem fim de beleza e técnica.
E bem pertinho, na parte de pinturas italianas tem DaVinci. É uma coisa fora de série. Não sei bem explicar, mas depois de ter visitado tantos museus e ter visto tantos pintores diferentes cheguei a conclusão de que alguns são simplesmente especiais. Não tem uma razão clara pra isso, não é a técnica que te deixa hipnotizado (apesar de DaVinci ser um mestre de uma técnica tal que te faz duvidar da possibilidade daquilo ser real), nem os temas... é algo mais, que não consigo encontrar palavras pra descrever... e vou te contar, esse italiano está nessa seleção especial numa posição de honra.
Ainda falando de DaVinci, também é nessa parte do museu que se encontra sua obra mais famosa: Monalisa. Não visitem o Louvre com uma idéia grandiosa desse quadro. Ele é pequenininho, e cercado por cordas de tudo que é lado, com uma multidão se acotovelando para ver o mais perto possível e tirar uma foto, que não pode ser com flash e como todos se empurram é impossível de ficar boa.



Observação sobre pinturas nos museus europeus: uma das coisas legais que acontece dentro dos museus na Europa é que eles liberam para estudantes de pintura levarem suas telas e materiais para dentro do museu, onde eles estudam as grandes obras, então, não é raro ver alguém (de qualquer idade) reproduzindo um quadro dentro das galerias... é algo muito interessante de observar!

Enfim, é uma parte realmente imperdível do museu, nem que seja pra passar correndo, porque se você for ficar mais de 2 minutos apreciando cada quadro você precisará de um ano inteiro para conhecer o Louvre.
Terminando os quadros principais, estávamos com uma fome monstruosa. Procuramos os cafés mais próximos, mas estava tudo lotadíssimo, e a fome nos deixava impacientes e inquietos. Acabamos saindo dos pavilhões e fomos para uma espécie de bandejão que tem no hall principal, com uma fila bem mais amigável e que é selfservice... mas o estilo selfservice internacional, você escolhe o que vai compor o seu prato e eles te servem na porção padrão.
Saciada a fome, pegamos novamente o mapa do museu e planejamos o que veríamos no segundo round. Fomos primeiro para a parte descrita como Renascença, só para descobrir que lá tem exposta uma coleção de objetos decorativos dessa época, e não de quadros como imaginávamos. Não que não seja bonito ou interessante, é muito, mas não era nossa prioridade. Então fomos correndo para a parte seguinte do nosso plano: os apartamentos de Napoleão III! A decoração dessa parte do Louvre foi toda modificada para o ego de Napoleão III, e lembra bastante o que se vê em Versailles, com a diferença de que tem uma exposição imperdível de jóias da nobreza francesa e dos Napoleões.
Dali fomos ver os quadros do norte europeu, porque os holandeses são fantásticos. Só pra descobrir que a coleção do Louvre de pinturas dessa região é fraca... pra ver as obras primas de países europeus você tem que visitar os museus desses países mesmo. Então fomos procurar as obras que eu queria ver da pintura francesa do século XIX: os orientalistas! Fiquei emocionadíssima... e só então me senti satisfeita! Para uma maratona como a nossa, tínhamos visto tudo o que achávamos imperdível, e terminamos nos sentindo moídos e oprimidos pelo excesso de informação. Minha cabeça girava.
Resolvemos que para um dia de visita era suficiente, no dia seguinte não poderíamos perder a hora de jeito nenhum por conta do ônibus que nos levaria para o parque Astérix, que tem hora marcada, e só sai uma vez por dia.
Para levantar o astral fomos para um Starbucks que tem no Carroussel e pedimos um bom chocolate quente para cada um. Mais felizes e aquecidos pela bebida dos deuses, fomos finalmente para o balcão de informações turísticas, e descobrimos que era impossível comprar com antecedência as passagens de ônibus. Porém a atendente nos explicou como achar o ponto dele e nos sugeriu que fizéssemos um teste naquele momento para não nos perdermos no dia seguinte. Achamos a idéia ótima, e lá fomos nós!
Claro que nos perdemos, e ficamos uma boa meia hora procurando o estacionamento certo. Chegando lá, um lugar enorme e feio como qualquer estacionamento, procuramos uma placa ou indicação do lugar de onde parte o tal ônibus e não vimos nada. Preocupados, começamos a pensar como faríamos no dia seguinte, será que estávamos mesmo no lugar certo? Resolvi que era melhor perguntar por ali perto, nas lojas próximas da saída pro estacionamento. Todos me garantiram que o ônibus saía dali mesmo "em torno das 8:30h". Bom, era o máximo que podíamos fazer.
Saímos do estacionamento e voltamos ao Carroussel, resolvemos dar um pulinho na Virgin, onde comprei mais um livro de dança do ventre. Estávamos cansados demais pra fazer mais coisas, então achamos que era melhor voltarmos ao hotel. Deixamos todo o peso no quarto e fomos jantar olhando o pôr do sol num restaurante muito simpático perto do hotel.
Olhei pro menu e vi um prato com um nome muito bonito, andouillette, e perguntei o que era: uma salsicha de entranhas de porco. Que salsicha não é? Apesar do aviso de ser uma comida forte resolvi arriscar. Pra quê? Comi o primeiro pedaço e achei ótimo, mas depois do segundo o gosto meio que impregnou a minha boca de tal forma que eu não conseguia mais comer aquilo. Era forte demais pra mim. Olhei suplicante pro Caike (que tinha pedido um pato lindo de morrer) "quer experimentar?". Ele gostou e elogiou, dizendo que era bem diferente. Olhei novamente, só que mais suplicante ainda, "quer trocar?". E ele salvou o meu estômago e o meu jantar. O pato dele estava maravilhoso! E ele conseguiu comer a maldita andouillette inteirinha, não sei como.
Terminado o jantar, o sol terminando de se pôr, já era quase 22h e tudo que precisávamos era dormir. Voltamos pro hotel, fui pra minha sessão, que precisava ser diária, de lavação de roupa e capotamos. No dia seguinte iríamos à Gália!






Um comentário:

  1. A sua descrição do Louvre é perfeita!! Eu fico, a cada vez que leio o diario da sua viagem, com mais vontade de ir para a Europa. E em breve vou realizar o meu sonho.. ir morar e trabalhar por lá!!

    Quero ver as fotos da sua viagem.

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