29 de abril - Versailles



Apesar dos nossos planos de acordar cedo e chegarmos a Versailles com o castelo abrindo, o cansaço era tanto que foi impossível despertar na hora marcada. Levantamos mais de uma hora depois do planejado e ainda assim com muita dificuldade. O dia estava feio, cinza e chuvoso. Pequei meu casaco/mochila, que era levemente impermeável, mas na dúvida pequei também minha capa de chuva tamanho infantil. Colocamos na mochila a garrafa de vinho que havíamos comprado no primeiro dia e os pães, queijos e salame que levaríamos para fazer um piquenique nos jardins do castelo.


Tomamos o café no hotel mesmo, já que estávamos atrasados mesmo e meia hora a mais não faria a menor diferença. Saímos apressados, pelo atraso e pelo frio, e corremos para o metrô. Já tínhamos verificado como chegar lá usando apenas o RER, o que é mais fácil do que ir até uma estação e pegar um trem. Compramos os bilhetes, que pela distância têm um preço diferenciado, e partimos. O RER pra Versailles é um pouco diferente, tem dois andares e uma boa parte do caminho é feita acima da superfície, de forma que do segundo andar a vista é ótima! Pena que não consegui aproveitar muito, fui dormindo quase o tempo todo, acordando apenas nas estações de parada para tentar não perder a hora de descer, o que foi ótimo porque pra mim a viagem durou apenas uns 15 minutos, enquanto o Caike me afirmou que havia durado 45.


Chegando na estação, quase que o trem todo desembarca, a quantidade de turistas, de japoneses e chineses (impossível diferenciá-los nessa situação) é assustadora! Parece um mar de gente. Você nem precisa procurar um mapa pra ver o caminho até o Château, é só seguir a multidão. Por conta da chuva, saquei minha capa da mochila e me preparei para a tempestade! Fomos andando numa chuva razoavelmente forte até a entrada do castelo quando a vimos.


A fila pra entrar.


Era a maior fila que eu já tinha visto, pelo menos numa chuva daquelas. Era um cenário desanimador.


Fomos nos informar sobre a possibilidade de darmos carteirada com o sagrado museum pass, e descobrimos que podíamos! Foi a melhor sensação do mundo! Passamos por aquele monte de gente enxarcada e fomos direto para a entrada, onde passamos novamente pelo detector de metais... e no raio-x viram que carregávamos uma garrafa. Garrafas de vidro eram proibidas. Era uma vez o nosso piquenique. Tristes, mas conformados, até porque com aquele tempo um piquenique não era a melhor idéia do mundo, deixamos a mochila do Caike no guarda-volume e fomos conhecer a famosa residência real da França.


O Château de Versailles foi a residência oficial dos reis Louis XIV, Louis XV e Louis XVI. Construído no século XVII, ele é uma obra muito representativa do estilo clássico e também do barroco, com a mitologia greco-romana sendo o grande objeto de suas pinturas e esculturas, além, é claro, dos reis, principalmente Louis XIV, o Rei-Sol. Os grandes apartamentos são realmente impressionantes, tudo com muitos detalhes, esculturas e afrescos cobrindo todos os tetos. Tudo de uma suntuosidade quase/muito criminosa, com muito ouro e prata, fora as imensas tapeçarias, espelhos e cristais. Em resumo: é uma loucura tão grande que vira um deleite para os olhos.


Logo quando se entra (há um caminho certinho para se percorrer) você se depara com a Capela Real, que é belíssima, com o chão todo de mármore de diversas tonalidades, detalhes em ouro nas paredes e um órgão lindíssimo.


Depois começa o tour pelos grandes apartamentos, todos nomeados com deuses greco-romanos, sem corredores e sem nenhum banheiro. Os quartos vão dando um no outro, todos com ante-câmaras, para a realeza poder saber que alguém está chegando com antecedência, é claro. É um mais suntuoso que o outro, pois o propósito era mesmo impressionar os visitantes e mostrar toda a riqueza de Sua Alteza. A idéia era de que quem tivesse o castelo mais rico e suntuoso era mais poderoso e, consequentemente, temível.


O pé direito é tão alto que chega a assustar, inclusive nas portas, pois o rei possui uma majestade tal que ultrapassa o seu corpo físico e precisa de espaço para passar. O engraçado é que essa regra não vale para o tamanho das camas... são todas pequenininhas... perfeitas para alguém com a minha altura!


Mas voltando ao tour, depois da capela, entra-se no Salão de Hércules, o maior do château, onde tem um afresco gigantesco no teto da Apoteose de Hércules, com ele entrando no Olimpo... é o sinal de que você agora vai entrar no domínio dos reis, digo, deuses... aí vem o Salão da Abundância, que é uma espécie de ante-sala para os apartamentos do rei.


Dali se segue para o Salão de Vênus, e depois para o Salão de Diana, que era usado como sala de jogos. Em seguida tem o Salão de Marte, onde ficava a guarda do rei, depois o Salão de Mercúrio, onde o corpo de Louis XIV foi velado quando de sua morte, e então o Salão de Apollo, o deus-sol, que é, obviamente se você pensar no título de Louis XIV, o salão do Trono. Só ficou faltando pintarem Apollo com o rosto do rei.


Ao lado fica o Salão de guerra, seguido da Galeria dos Espelhos, cujo nome vem da quantidade absurda de espelhos, são 350 no total e são os maiores espelhos possíveis de se fabricar na época, além de inúmeros lustres e candelabros enormes de cristal e, pra variar, muitos afrescos e ornamentos no teto. Claro que é o aposento mais famoso do Château.


Vem então os apartamentos da rainha, começando pelo salão da paz (guerra é coisa de macho, paz é coisa de mulherzinha, só pode ser essa a lógica, né?), seguido pelo aposento mesmo dela, com direito a uma cama diminuta mas muito chique, e, enfim, o grande gabinete, ou salão dos nobres ou do conselho.


Depois disso temos os salões modificados por Napoleão, que são quase tão egocêntricos quanto aqueles de Louis XIV, com pinturas que cobrem a parede inteira com a coroação de Napoleão, por exemplo.


Então, já cansados de ver tanto ouro e pinturas mitológicas, descemos as escadas para uma parte do château bem menos visitada, e, portanto, mais civilizada e fácil de apreciar: os apartamentos do delfim e da "delfina". Isto é, as crianças. E tivemos uma bela aula sobre como estragar uma criança e torná-la um Louis XIV da vida: é só criá-la num espaço como aquele. Receita testada e aprovada por gerações!


Mas fora isso, é uma parte muito interessante da visita, pois esses quartos são muito bem mobiliados, e neles você tem uma idéia bem melhor do como era a residência real, e de como era a educação dos reis: vendo as bibliotecas infantis e os objetos de estudo, como um globo enorme com direito a representação do relevo. Fantástico!


Depois desses apartamentos menores, saímos para o jardim. E eu quase desisti de continuar visitando o lugar. Estava tão frio, que nada me esquentava, e a chuva não parava de cair... era tanta água que até o gramado estava enlameado. Era difícil de andar sem escorregar e ventava sem parar. Para quem detesta frio, como eu, era um pesadelo. O Caike teve que me persuadir a continuar e visitarmos os jardins, com uma vaga promessa que ao atravessarmos aquilo tudo veríamos o petit e o grand Trianon. Como a curiosidade matou o gato, e eu realmente queria andar pelos lendários jardins de Versailles, me deixei convencer.


Meio tremendo, meio correndo, nos escondendo onde dava da água que não parava de cair, fomos olhando o jardim, que é mesmo debaixo de toda aquela chuva, uma verdadeira obra prima, com estátuas belíssimas, com as quais brincávamos de adivinhar a divindade grega que era representada. As árvores são cortadas de forma a fazer desenhos impossíveis, parece que escolheram a dedo onde plantar e depois fizeram estudos geométricos com elas. Uma beleza! E tem as fontes... que mesmo desligadas (até porque ninguém precisava de mais água) são lindas de morrer...


E foi morrendo de frio que paramos no meio do caminho para os Trianons para almoçar. Escolhemos um dos lugares mais quentes do restaurante (que era caríssimo por causa da localização). Eu estava enxarcada, meus sapatos estavam molhados até a alma, minha calça pingava a partir do meio das coxas (tive até que esvaziar os bolsos por causa disso) e eu tremia quando tirei a capa de chuva e me sentei da mesa. Nem os mapas escaparam, estavam em frangalhos e se desfaziam entre os dedos.


Aproveitamos o ambiente quentinho o máximo possível, meio que enrolando para comer. E deu certo! Quando terminamos estávamos secos! Com excessão dos sapatos, que estavam além da salvação.


Apesar revigorados pelo calor e pela comida, nos desanimamos quando vimos que a chuva continuava. E não estava com cara de que ia dar uma trégua nos próximos anos. Acabamos por desistir de ir até o Trianon e resolvemos voltar devagar, passando pelas partes dos jardins que ainda não tínhamos visto. A idéia também era poupar um pouco as nossas pernas, pois no dia seguinte tínhamos programado de ver o Louvre, o que exigiria muito delas.


Foi assim que voltamos até o château, onde eu fiquei horas na fila do banheiro enquanto o Caike procurava o lugar onde tinha deixado a mochila. A fila demorou tanto que deu tempo dele voltar e me esperar.


Pegamos novamente o RER e o metrô, onde eu aproveitei para dormir mais um pouquinho. Passamos na vendinha perto do hotel, onde o vendedor já até conhecia a gente, só faltando nos tratar pelo primeiro nome, compramos mais pão, queijo e presunto du pays (um tipo de presunto cru que eu a-m-e-i). Comemos tudo já na cama, depois de um bom banho quente. Aproveitei que já estava no clima e lavei as roupas dos dias anteriores na pia (para mais 30 dias de viagem, lavar roupa é obrigatório) e pendurei pelo quarto todo, incluindo as portas dos armários e do banheiro. A decoração ficou fantástica rsrsrs


E finalmente pudemos dormir ouvindo a chuva cair do lado de fora da janela.




3 comentários:

  1. Adorei a descrição.. e continuo falando.. vc tem uma facilidade de nos transportar até onde vc menciona.. eu consigo imaginar a magnitude de tudo o que vc descreve.. apesar de saber que a minha imaginação não deve fazer nem mesmo frente a beleza que vc viu.. meus parabens!!

    Nota: QUERO MAIS FOTOS!!

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  2. as fotos vão chegar... tenham paciência com essa pobre mortal... rsrsrs

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