Turquia - 7° dia - Capadócia


Acordamos no nosso hotel maravilhoso com a vista cheia de balões... se a vista já era linda antes, com os balões ficou ainda mais mágica! O café da manhã estava simplesmente perfeito, sem dúvida o melhor da viagem em termos de variedade e qualidade da comida! E nós precisávamos de muita energia!

Vista do hotel com os balões
Esse dia foi totalmente dedicado a conhecer a Capadócia. Acordamos bem cedo para sermos os primeiros a chegar no Museu a Céu Aberto de Göreme. Mais tarde viemos a descobrir que chegar cedo também significa pegar bem menos sol e calor...

A Capadócia é uma região com uma paisagem única e com uma cara meio lunar... com suas rochas de origem vulcânica extremamente macias, o que as tornam fáceis de deformar pelos ventos ao longo do tempo, por isso o perfil da paisagem é realmente muito diferente. Além disso, suas rochas e solo foram usadas durante muitos séculos para escavar casas e até cidades inteiras. Göreme é uma dessas cidades!

As rochas "esburacadas" de Göreme
Criada por uma leva dos primeiros cristãos, que procuravam viver de forma monástica e eremita, pelos idos do século III, eles aproveitaram algumas construções já existentes e fizeram muitas novas, incluindo diversas igrejas, criando um grande complexo de cavernas.

A visita é um pouco cansativa, pois os quartos e igrejas ficam espalhados pelas rochas, como se fossem mini-montanhas, e durante o passeio se sobe e desce um monte de ladeiras e escadas!

Mas vale a pena cada gotinha de suor, pois o lugar é muito lindo e exótico! As igrejas são todas lindas e muito diferentes do que você poderia imaginar de igrejas em cavernas. Primeiro, elas são inteiramente escavadas, mas isso não as impede de ter colunas! Segundo, são todas lindamente pintadas por dentro! E o mais interessante, em algumas delas existem 2 camadas de pintura, pois a primeira camada decorativa, datada do início da ocupação de Göreme, era muito simples e limitada, e até o final do século XIII, novos afrescos, bem mais complexos, foram pintados por cima, e novas igrejas também foram construídas até o final desse período.

O único porém é que não podemos tirar fotos no interior das igrejas, nem sem flash :-(

No interior das igrejas não pode, mas algumas desabaram parcialmente e podemos ver as pinturas expostas!
Algumas igrejas também estão um pouco depredadas, pois depois que os cristãos abandonaram a região, os muçulmanos que chegaram depois simplesmente não entendiam o que eram aqueles afrescos, e alguns mais radicais tentaram até mesmo destruí-los (lembrem que para o islamismo a representação de criações de Deus, incluindo seres humanos, é vista como heresia). Isso também explica os nomes dados às igrejas: igreja da maçã, da sandália... pois os moradores do local não reconheciam os santos nem as imagens!

Depois de começar a sentir o calor que é capaz de fazer na Capadócia, fomos fazer outro passeio exótico: conhecer uma cidade subterrânea!

Como mencionei anteriormente, essa região é composta basicamente de pedra vulcânica, fácil de manusear (ela se desfaz com a unha!), e por ser muito erma, foi usada ao longo da história como esconderijo de diversos povos. Algumas das cidades subterrâneas dessa região datam da época dos Hititas (um povo conterrâneo dos egípcios, quem leu a Saga de Ramsés de Christian Jacq já ouviu falar deles), e diversas outras foram feitas ao longo dos séculos. As mais modernas foram feitas pelos cristãos que habitaram essa região, para servirem como esconderijo nos momentos em que foram caçados (primeiramente pelos romanos, e mais tarde pelos muçulmanos).

Uma das maiores galerias da cidade-caverna
Existem cidades subterrâneas de diversos tamanhos, que comportam diferentes quantidades de pessoas, com espaço para manter um estoque suficiente de comida para pelo menos alguns meses. E dentro dessas cidades tem de tudo, desde estábulos, até cozinha (com direito a uma chaminé que fique bem longe da entrada da cidade, claro), quartos de dormir, local para fabricação de vinho etc. tudo o que fosse indispensável para sobreviver.

Mas essa visita também não é para qualquer um, pessoas com claustrofobia e problemas cardíacos podem passar mal, pois as salas debaixo da terra são todas bem fechadas, com passagens pouco apropriadas para pessoas com mais de 1,60m. Em algumas dessas passagens até mesmo crianças precisam se abaixar, pois a idéia era manter o controle e dificultar a passagem de inimigos no caso deles descobrirem a localização dessas cidades. Até portas à la Indiana Jones foram usadas nessas cidades!

Para ter uma ideia do tamanho do corredor, eu, essa "enormidade" de pessoa, precisei me agachar assim!

As portas são grandes pedras que só podem ser movidas pelo lado de dentro
No caso da cidade que fomos visitar, ela foi descoberta recentemente (anos 90) por conta de uma galinha fujona. O fazendeiro, dono da área, que descobriu a cidade, alertou as autoridades, que confiscaram a sua terra, por conter um sítio arqueológico, e com o dinheiro que ele recebeu de indenização ele abriu a lojinha de souvenires que existe bem em frente à entrada. Não sei se ele fez um bom negócio, mas certamente a visita foi inesquecível! É realmente uma experiência única se sentir uma formiga debaixo da terra, passando por todos aqueles túneis... ah, e é frio lá embaixo! Apesar de não haver um sistema de ar condicionado, a porosidade da rocha funciona como um filtro de ar, purificando e gelando tudo! Quanto mais baixo e mais longe da entrada da caverna, mais frio!

Depois do choque térmico de sair da caverna para encontrar o calor da superfície, pegamos o nosso ônibus e fomos levados para uma loja de tapetes, outro ponto turístico que não dá para pular quando se vai à Turquia! O interessante dessas visitas é que você pelo menos aprende alguma coisa sobre o artesanato local, ao invés de apenas fazer compras.

A loja que visitamos funciona também como escola de tapeçaria, ensinando a jovens pobres (sempre mulheres) a ganharem um dinheiro extra para a sua família. E na entrada da loja tem um atelier onde um dos vendedores explica a diferença entre os tipos de nós usados na fabricação dos tapetes, a diferença entre os tipos de material utilizados, como se tinge cada tipo de material etc... tudo para você entender muito bem porque os preços variam tanto e justificar o valor cobrado na loja :-)

Jovem tecendo tapete, a velocidade com que elas tecem é incrível!
Brincadeiras à parte, a aula é realmente interessante. E a apresentação feita dos tapetes à venda, já na loja e depois de servirem um monte de tipos de bebidas (inclusive alcoólicas, o que demandam certo controle por parte do cliente que não quer gastar dinheiro), é muito bonita. Os tapetes em si são todos lindos, e aula que se tem sobre padrões, cores e tipos de tapetes falsificados é digna de um museu! Só que nesse museu você pode comprar as peças que você gostou e levar pra casa. Eu, como sou alérgica, usei do meu autocontrole para não comprar nada. Foi muito difícil, mas eu consegui.
Alguns tapetes são tão detalhistas que mais parecem quadros!
Como a compra de tapetes pode ser um processo um pouco demorado (não só pela escolha do tapete, mas também pela negociação do preço a ser pago – afinal estamos falando da Turquia), o grupo se dividiu entre aqueles que iriam comprar tapetes e aqueles que estavam com fome. Os primeiros ficaram até mais tarde na loja, enquanto os segundos foram direto para um belo restaurante que é uma réplica de um caravançarai (lugar para descanso e pernoite para as antigas caravanas). O restaurante por si só era uma atração, mas, além disso, a comida era muito boa e bem servida, apesar de não haver menu. O sistema era de entrada, prato principal e sobremesa, com algumas poucas opções de cada prato. Mas o preço era justo, e eles aceitavam cartão de crédito.

Depois de um almoço bem demorado, o que foi muito bem vindo, fomos visitar o “vale das fadas”. Lembra que eu mencionei que a Capadócia tem o solo feito de uma rocha vulcânica fácil de ser moldada? Pois bem, cada camada do solo tem uma facilidade um pouco diferente de ser moldada pelos ventos, e com isso, ao longo dos séculos, foram sendo criadas, naturalmente, diversas estruturas que se assemelham a cogumelos, daí o apelido de vale das fadas. Outros nomes mais vulgares também são usados pela população local, mas isso eu deixo para a imaginação de vocês.

Vale das Fadas
E foi durante esse passeio que eu entendi o que é o clima continental durante o verão... a Capadócia é um lugar de extremos, chega tanto a -20° no inverno quanto a 50° no verão. E eu juro que fica mais quente do que no Egito quando chega a 50°! Nunca imaginei que fosse visitar um lugar nessa temperatura... e como o clima é extremamente seco, a diferença de temperatura entre a sombra e o sol é bizarra! Na sombra chega até a ser agradável, enquanto debaixo do sol de 50° a coisa fica bem complicada. Mas como as rochas são muito porosas, qualquer caverna parece ter um ar condicionado natural, o que facilita muito a exploração do vale.

Na sombra é muito mais agradável...
Esse tipo de formação rochosa é encontrada facilmente em toda a região, e algumas chegam a ter formatos mais peculiares e recebem nomes especiais, como “3 reis magos” e o “camelo”.

O Camelo
Toda a região parece um verdadeiro queijo suíço, pois em todas as rochas tem cavernas escavadas pelo homem, mas algumas estruturas merecem uma atenção especial, como o castelo que demos uma paradinha para ver de mais perto. E, aproveitando a parada técnica, encontramos um barzinho para tomarmos um chá gelado enquanto curtíamos um calor digno do Rio de Janeiro no auge do verão. Ok, talvez fosse pior.

"O Castelo" mais parece um queijo suíço

Depois de derreter o cérebro no calor de 50°, nossa guia nos levou para conhecer outro “artesanato” típico da região: o trabalho de ouro e prata com pedras preciosas. E claro, a pedra mais famosa da Turquia: a turquesa. Lá aprendemos também a distinguir a pedra falsa da verdadeira, o único problema é que quando a cópia é boa só dá para ver se a pedra é verdadeira ou não se a quebrarmos. Não adianta muito, né? Mas a visita valeu à pena, pois a loja era realmente muito bonita e os preços realmente tentadores.

Após essa visita, o nosso grupo se dividiu novamente, pois nem todos queriam assistir ao show dos dervixes rodopiantes. Claro que eu e o Caike fomos ver os sufis dançando. A cerimônia (chamada Sema na Turquia) foi realizada num lugar muito interessante, pois era numa casa com um jeito bem simples, com uma pequena loja de souvenires no térreo, e uma escada que dava para o subsolo. O subsolo era um salão imenso e frio (por causa da rocha porosa), que mais parecia um local de encontro religioso mesmo.

No centro do salão tinha um palco redondo, onde seria realizada a sema. A cerimônia foi realizada por um grupo de 4 dervixe, mais 3 sufis que serviram apenas de músicos, e mais o mestre do grupo. Como é uma cerimônia religiosa, não podemos tirar fotos, mas isso não faz a menor diferença, pois o importante ali certamente não era a parte visual (apesar de ser muito impressionante).

A cerimônia começa com os músicos tocando uma linda música sufi, daquelas que só de ouvir você começa imediatamente a meditar, depois entra o mestre e os demais dervixes, que seguem todo um cerimonial específico, que tem um simbolismo lindíssimo (isso pode vir a ser um post no futuro...), e no final o mestre faz um sermão com base no corão ou em ensinamentos sufis (essa parte eu não entendi nada snif snif snif). A entrega dos dervixes era tão grande que dava para perceber as variações mais ínfimas na música, de forma que todos eles paravam de rodopiar ao mesmo tempo... e depois de umas duas sessões de rodopio já dava para saber quando eles iriam parar. Algo realmente mágico de se ver.

O bacana mesmo é a experiência de assistir o sema, pois se você der sorte de assistir um ritual de verdade, é algo realmente fantástico! A sensação que eu tive foi de estar dançando e meditando junto com os dervixes... saí de lá extasiada! Foi uma das coisas mais lindas e emocionantes que já vi. Mas não é todo o mundo que entra nesse clima...

Durante a cerimônia não pode tirar foto, mas depois os dervixes dão uma palhinha para os turistas registrarem
Depois da cerimônia voltamos para o nosso hotel na caverna, e fomos jantar junto com o casal paulista. Dessa vez eu e o Caike pedimos um “Celtik Kebab”, que era um prato de carne de carneiro com batata palha e iogurte, enquanto o casal pediu peixe. Para variar tudo estava divino! Apesar de confessar que eu gostei mais do prato que eu havia comido no dia anterior...

Após o jantar fomos direto dormir, pois o balão sairia absurdamente cedo no dia seguinte.